segunda-feira, 1 de junho de 2015

A importancia da imagetica para as dinastias europeias

Ana de Cleves, quarta esposa do rei Henrique VIII da Inglaterra, por Hans Holbein. Essa pintura seria um exemplo de imagética da monarquia.

 Considerada a pintura mais infame da historia britânica,pode-se considerar estranho o pintor desse quadro não ter sido decapitado na época, Seu criador,Hans Holbein,foi para o ducado de Cleves para fazer um retrato da filha do duque que estava como candidata para consorte do rei.Ele havia perdido sua terceira esposa quando esta deu a luz ao filho Eduardo Tudor,futuro rei Eduardo VI. Triste por perder a única mulher que lhe realizou o sonho de ter um varão,ficou viúvo e sem esposa por 3 anos e todos imaginavam que ele não voltaria a se casar,mas ele precisava de um segundo menino para garantir a sucessão.Ao verem candidatas,viram que a melhor era Ana de Cleves,pois era jovem.Então, o nosso Holbein foi para la.
 Ver Ana foi espantoso,sua roupa não tinha decote,nem era fácil ver curvas ou um pescoço,estava toda coberta pelo vestido e a coifa não mostrava nem mesmo a raiz do cabelo,havia ouro e pedras preciosas em toda a parte da vestimenta,mal via-se o rosto. O pior de tudo isso foi que tudo era considerado ridículo, nem a recata Jane Seymor,a falecida esposa do nosso rei mulherengo,vestia-se daquele jeito.E tudo que podia ver na princesa de Cleves era feio,o nariz grande,olhos que eram ditos sem graça e a tez era considerada escura para uma época em que o branco translúcido era a cor de pele ideal feminina.
 O rei iria se apaixonar por ela através da pintura e odiá-la ao ver a verdadeira aparência da noiva,mas acabariam se casando e meses depois se divorciariam,ela se tornaria sua amiga depois e a mais esperta das esposas dele ao aceitar o divorcio vendo que poderia terminar no cadafalso, logo depois,mudou de estilo ,isso agradou tanto ao rei que circulavam rumores de que ele pensava em se divorciar de Catarina Howard para voltar com ela.
  Podemos ver que Ana não era feia,mas que ela foi retratada do jeito que foi por pura imagética.


  Uma pessoa que causava escândalos devido a imagética foi a rainha da França Maria Antonieta, a pintura ao lado chamada La reine en Gaulle, de Elizabeth Vigee- Le Brun mostra uma mulher que passava por uma fase idílica, com um chapéu da palha com aba grande, uma flor nas mãos e outras atrás e um vestido de musselina denominada chemise foi um escândalo. Por muito tempo ela vestiu-se de maneira pomposa, vestidos de anaguas enormes, detalhes perfeitos, com enormes babados e laços, sem contar os poufs que não podiam ser mais volumosos, agora ela estava em uma fase totalmente contraria que diferente do imaginado não alegrou a ninguém.
  Ela parecia uma pastora, antes era culpada de esbanjar o dinheiro dos cofres franceses (o que era mentira), agora era culpada de ridicularizar a realeza da França, comparando-a com o terceiro estado da França.Ela com certeza não era muito boa em imagética.


Ela tentou resolver isso e a mesma pintora acabou por       

retratar Maria Antonieta no quadro ao lado,  La reine en rose, uma versão do quadro polemico. Nesse ela aparece com seu penteado pomposo e um vestido um pouco mais simples que os que ela normalmente usava, agora sem o vestido de musselina que foi considerado muito tranparente e colado que passava dos limites do mau gosto.
 Mas foi tarde demais,desde suas amigas como a princesa de a princesa de Lamballe, ate suas inimigas como Madame du Barry seguiam esse estilo de pastora.

 Mas por que era estranho ela se vestir assim? Porque a imagética dos reis era diferente na época. Sendo assim isso era visto como uma provação, afinal,onde estava o luxo da realeza francesa?Corrigindo:Onde estava o luxo de qualquer realeza?
 A imagética dos reis era sempre baseada no luxo e na amostra de poder e riqueza misturada com elementos simbólicos da época vivida.

Cristiano VII da Dinamarca, por um pintor anonimo.



Nesse imagem de Cristiano VII da Dinamarca podemos ver essa imagética monárquica perfeitamente. O cetro e a coroa são símbolos de que ele reina, não de que esse quadro homenageia sua coroação, normalmente, nos retratos de coroação o monarca esta com a corroa em sua cabeça e muitas vezes sentado em seu trono. A pintura mostra o rei usando muitas jóias, ouro, prata e tecidos finos ricamente bordados mostrando todo o seu esplendor, o rosto nas pinturas não sempre fielmente retratado pelo pintor, que tenta amenizar os traços e esbranquiçar as mulheres e fortifica- los nos homens, deixando-os mais afeminados ou mais másculos a pedido do cliente. Obviamente, o que mais da um impacto da pintura de um monarca é o manto com pele de arminho. A pelagem desse animalzinho é marrom no verão e branca com um pedaço preto na cauda durante o inverno, dizem que ele prefere morrer a sujar os pelos, então usar um mantos desses significa morrer a perder a honra.

Os monarcas levavam isso muito a serio e roupas com arminho e bastões de comando eram muitos usados, alem disso havia os capacetes de cavaleiros, que apareciam em retratos de reis e nobres para mostrar sua bravura e que tinham poder militar, mas muitos não eram nem metade do que vemos.
Marquesa de Pompadour como Vênus, por Boucher


 Na renascença começaram a colocar seres e deuses mitologicos nas pinturas, fazendo-se alegorias que indicavam algo sobre a pessoa retratada,por exemplo: Minerva é a deusa romana da sabedoria e erudição, então a pessoa retratada em um quadro onde ela também aparece quer mostrar que é inteligente. As amantes reais de muitos reis franceses eram comparadas com Vênus, a deusa do amor, mas Henrique II da França decidiu comparar sua amante, Diana de Poitiers com Diana, a deusa da caça e da lua, que era uma das três deusas virgens, mostrando mais como a viúva que era do que como uma amante. Logo depois veio a moda de não estar perto dessas divindades, mas ser elas, pinturas com mulheres de trajes greco-romanos ou totalmente nuas, rodeadas de flores e segurando objetos com seu respectivo simbolismo ficavam comuns entre as damas, ate as rainhas fizeram suas pinturas com essa imagética, Maria de Medici, esposa de Henrique IV da França e Navara foi retratada como Minerva para mostrar sua inteligencia que a tornou regente, Marie-Anne de Mailly Nesle, amante de Luís XV, foi retratada normalmente como Aurora ou Hebe. Isso os comparava com deuses e mostravam seu poder sobre seus domínios, reafirmando sua autoridade.
Francisca Maria ou François Marie de Bourbon, por Pierre Mignard.


Retrato equestre de Carlos II da Espanha ainda criança, por Sebastian Herrera Barnuevo.

  Temos aqui duas crianças retratadas com esse recurso, mas por razoes diferentes. A filha de Luís XIV e a Marquesa de Montespan não era a filha mais bonita desses amantes, pode parecer estranho ao ver suas pinturas, mas é claro que não iriam retrata-la como realmente era, mas podemos dizer que tinha uma boa aparência, pois seus pais eram ditos como muito belos. Acontece que a filha mais bonita do rei era Ana Maria, primeira Mademoiselle de Blois, filha de sua antiga amante, Luísa de La Valiere.
  Sua mãe geralmente ignorava seus filhos, e ainda mais a ela por não ser bonita, então esse rostinho angelical foi puro retoque do pintor e talvez ate os cachinhos poderiam ter sido retocados para parecerem mais sedosos e brilhantes. A vestimenta romana e a paisagem foram usadas para dar um toque divino a pintura e combinar com a delicadeza do movimento da bastarda.
  Já em Carlos II a situação acaba sendo mais complicada. Ele era fruto de endogamia, uma deformação no corpo causada pelos casamentos entre parentes de grau próximo, por isso ele era deformado, tinha problemas de coordenação motora, dificuldades para ter filhos e tinha problemas psicológicos e essa pintura era para mostrar o contrario. Com um bastão de comando e montado em um cavalo ele parecia um rei criança da época e ainda por cima não estava com o rosto deformado que realmente tinha era um jogo brilhante. Com isso, sua mãe e regente Mariana da Áustria estava tentando mostrar para a Europa que o rei da Espanha era uma criança forte que seria um ótimo monarca no futuro, mas não era bem assim, ele só aprenderia a falar aos 4 anos e andar aos 8 anos, então ele não poderia andar a cavalo. Então podemos ver que a primeira é embelezada para melhorar os traços e a segunda para modificar completamente a impressão que se tem sobre o rei.

Dom João VI de Portugal e sua consorte Carlota Joaquina da Espanha, por  Manoel Dias de Oliveira.

  Dom João VI entra sempre no imaginário popular de todos os brasileiro que gostam de historia da mesma maneira, como um rei gordo, medroso, sem vaidade, sem força para tomar decisões e que governou a maior parte do tempo como regente, não rei. Carlota Joaquina não poderia ser uma antítese maior do que já é, era inteligente, decidida, gananciosa, maquiavelica e que sonhava governar em seu próprio direito. Era a filha mais velha de Carlos IV da Espanha, por isso foi herdeira ate o dia em que nasceu o primeiro varão, que entrou em sua frente na sucessão. O que mais sabemos sobre eles (alem de sua fuga para o Brasil em 1808) é que tiveram um relacionamento horrível, nenhum dos lados se amava ela não tinha o menor respeito por ele, não conseguia nem disfarçar um pouco de amor por seu marido, por isso Carlota Joaquina o traiu, e o pior: tentou destrona-lo, muitas foram a suas tramas, a mais famosa foi a que convenceu seu filho favorito Dom Miguel a destronar o pai e torna-la sua regente, no Brasil, ela tentou ser coroada rainha da Argentina e ser coroada em Buenos Aires, jamais funcionaram e ela nunca pode controlar nada.
  Essa pintura com ambos de mãos dadas é para convencer o observador de que eles eram um casal amoroso e que se davam bem e, provavelmente, ameniza os traços masculinos da rainha adultera que tinha fama de ter um rosto considerado horrível (alguns a afirmar que ela tinha bigode).
  Isso era comum a muitos seculos antes desse retrato. Maria I e Felipe II fizeram o mesmo e o casamento deles também não tinha amor, apenas respeito um pelo outro. Maria da Inglaterra, irmã favorita de Henrique VIII, e o seu segundo esposo Charles Brandon, Duque de Suffolk, esse casamento foi um dos poucos que podemos dizer que foi ótimo, pois foi por amor.




Voltemos agora para a Era Tudor, em seu inicio, Henrique VII estava tentando convencer o reino sobre a sua legitimidade no trono ao lembrar que era descendente de João de Gaunt, quarto filho de Eduardo III e Filipa de Hainault, apesar de o ser por parte dos bastardos. Para isso ele precisava mostrar isso para ter mais poder e ser benquisto pelo povo e mostrar que sua nova dinastia era uma mistura da das dinastias Iorque e Lancaster (Ele conseguiu apoio dos Iorquistas ao se casar com a princesa Elizabeth de Iorque), ele conseguiu isso ao mostrar em seus quadros segurando a rosa Tudor. Uma mistura da rosa vermelha dos Lancaster e branca dos Iorques para mostrar sua pretendencia ao trono, logo sua esposa iria posar ao seu lado com a rosa branca de sua dinastia ele com a rosa vermelha, decorado de rosas vermelhas e brancas. Uma perfeita combinação que mostrava que a coroa esta na cabeça da pessoa certa.
  Podemos ver que o governo de um rei pode ser denominado pela imagética que ele trás e que não só eles como todos os nobres faziam isso, ate as amantes dos reis.
  De volta ao seculo XXI, podemos imaginar que esse controle pela imagem não existe mais, mas a criação do Photo Shop acabou provando o contrario, com a diferença de que o simbolismo hoje em dia é inexistente. O mundo desde o inicio da civilização nos força a criar uma imagem de superior ou semelhante, os monarcas precisavam parecer superiores, então chamavam os pintores e pediam para que os pintassem, pena que não eram copias exatas, mas apenas uma versão do que são com o que gostariam que fossem.

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