quarta-feira, 10 de junho de 2015

Frederico, o principe de Gales que nunca foi rei, parte II

Augusta, princesa de Gales e duquesa de Rothesay, esposa de Frederico.

  O mais impressionante dessa historia é que normalmente os reis não odiavam seus herdeiros, na verdade eles os adoravam e as vezes demonstravam amar mais o herdeiro presumível do que aos outros filhos. Luís, delfim da França herdeiro de Luís XV, casado pela segunda vez com sua consorte Maria Josefa da Polônia e Saxônia demonstravam amar mais seu filho mais velho e herdeiro do pai, Luís, duque de Borgonha do que seus outros filhos. No final os três iriam morrer e o rei seria Luís XVI que muitos historiadores acreditam ter uma doença psicológica que o fez perder a personalidade devido a esse favoritismo e passou o resto de sua vida tentando imitar o irmão mais velho, morto aos 10 anos de idade.
  Mas os primeiros reis da dinastia de Hanôver eram uma exceção em tanto. George I detestava o filho que detestava o filho, algo que parece normal nos tempos atuais nas famílias comuns, mas nem um pouco elegante e normal para as famílias reais do seculo XVIII.
  Mas voltemos agora para a historia do príncipe no ano de 1737, já se fazia um ano que Frederico estava casado com Augusta de Saxe-Gota Altemburgo e ela demostrou-se não apenas uma ótima esposa como uma moça fértil, não tinha nem dezessete anos quando engravidou.
  Em 31 de julho de 1737, a princesa sofreu as primeiras dores do parto, logo Frederico recebeu a noticia de que seus pais estavam a caminho de Champton Court ver o nascimento da criança. Naquela época era normal que alguns súditos vissem a rainha ou uma das princesas dando a luz aos filhos, era uma maneira de garantir que a prole não houvesse sido trocada para esconder o nascimento de uma menina ou um natimorto.
  Mas Frederico não estava disposto a deixar seus pais terem o gostinho de ver o nascimento de seu primeiro herdeiro, então ele mandou seus criados tirarem-na da cama e moveram-se de carruagem para o palácio de Saint James o que era uma curta distancia, mas a rapidez com que se moveram a fez passar mal. Quando George II e Carolina chegaram em Champton Court ficaram furiosos e foram atrás do filho odiado, pois sabiam que sem testemunhas todos iriam suspeitas caso nascesse um varão saudável. Quando chegaram, ficaram felizes ao saber que era uma menina e não muito saudável como comprovam alguns historiadores. Mas houve uma certa irritação por parte dos reis que logo depois souberam que a menininha iria se chamar- por escolha de seu pai e sem a opinião dos avos monarcas da criança como era normal,- Augusta Charlotte.
  Agora Frederico tinha seu herdeiro, mesmo sendo femea fazia com que Guilherme Augusto ficassem não mais em segundo, mas sim em terceiro na linha de sucessão.

Frederico, príncipe de Gales e duque de Rothesay.

  Nesse mesmo ano de 1737, a rainha Carolina caiu doente, provavelmente por problemas no útero e Frederico tentou falar com ela, não se sabe bem o motivo, mas provavelmente por algum tipo de culpa por causa do ocorrido no nascimento de sua filha, mas a rainha se negou a recebe-lo. Dizem-se que ela pediu a George II que ele se casasse de novo e ele disse que não, que somente teria amantes como teve em vida de Carolina e que ela nunca havia se importado, ela lhe disse: 'Oh, Deus! Isso não o impede'. Ela morreu em 20 de novembro de 1737 e antes, quando seu esposo proibiu o príncipe de Gales de entrar ela lhe agradeceu e disse-lhe: Afinal,"haverá algo reconfortante quando meus olhos ficarem fechados eternamente e eu não terei de ver com eles o monstro nunca mais", foi o ultimo comentário de rejeição visceral ao primogênito feito por ela. A rainha Carolina poderia ter se dado bem com o filho se tivesse tentado conhece-lo, ela era muito mais inteligente que o conjugue e era uma avida leitora educada pelo primeiro rei da Prússia, assim como ela, ele era aficionado em estudos científicos e musica, mas odiou a musica que Handel compôs para o seu casamento, pois detestava claramente os elementos teutônicos da corte paterna.
    Em 1738, um ano apos o nascimento de Augusta Charlotte, a princesa de Gales deu a luz a um segundo filho em 4 de junho de 1738, dessa vez não precisaram se esconder, pois a criança nasceu muito antes da data prevista. A surpresa foi tanta quando a corte soube do nascimento, alem de outro detalhe: era um menino. Isso significava que o príncipe não tinha mais Augusta Charlotte como herdeira, mas sim seu primeiro varão. A criança podia ser o que fosse, mas era doente, todos pensavam que o pequenino não sobreviveriam e estavam prontos para o pior, mas o menino sobreviveu e foi batizado com o nome de George, mas o próprio pai da criança disse que não foi em homenagem ao seu pai, mas ao seu avo George I que ele tanto adorava, o nome completo seria George Guilherme Frederico de Hanôver, conhecido na época como George de Gales.
  Enquanto isso ocorria, ele aproveitava seu tempo e seu cargo para usufruir das artes e da botânica. Era mecenas de grandes artistas estrangeiros como o italiano Jacopo Amigoni, o belga Jean-Baptiste van Loo, o francês Joseph Goupy e os ingleses Philip Mercier e John Wooton. Na musica, como já foi dito, ele era contra os elementos teutônicos da corte de seus pais que apoiavam Handel que apesar de ser alemão foi naturalizado inglês. Frederico apoiava a opera inimiga dele, o Lincoln's Inn Fields. Mas devido as brigas entre pai e filho, Frederico e Augusta foram expulsos da corte no mesmo ano e começaram a viver em Leicester House a partir da morte da rainha e iam para Londres, morando na Cliveden House sempre que ela ia dar a luz o um filho, agora ela era a mulher mais importante da Grã-Bretanha. Os artistas frequentavam essa casa em Londres quase que todos os dias da semana enquanto o casal estava nela. 
    Frederico e Augusta buscavam apoiar os artista, intelectuais e músicos e foi em uma dessas visitas que James Thomson, poeta e dramaturgo escosses escreveu o hino Rule Britannia, isso pode-se dizer que é irônico no minimo, porque os escoceses tinham uma certa raiva pelos ingleses, pois os reis davam mais importância a eles do que a qualquer outro pais da tripla coroa e esse canção é uma das mais patrióticas da época e falava somente da Inglaterra. Esse hino pertencia a obra épica Alfred que foi apresentada pela primeira vez justamente na Cliveden House.
   Ele tambem deu muito valor aos esportes, começou a jogar cricket como ja foi dito para agradar aos futuros súditos, mas gostou do jogo e pretendia aumentar a posição deste. Em 1731 ele pretendia criar sua própria equipe de cricket e fazer campeonatos públicos na Grã-Bretanha. Infelizmente, o plano nunca sairia do planejamento, mas ele realmente teve sua equipe.
   Outro feito foi a criação dos jardins de Kew e a Kew House com a ajuda do arquiteto e paisagista Sir William Chambers. Seriam famosas as reformas que Augusta fez na casa logo apos a viuvez.    Esse jardim era um imenso jardim botânico que jamais deixou de atrair a curiosidade dos visitantes ano apos ano. A propriedade era um presente para Augusta, mas estaria pronta somente em 1757.                             
        Frederico, por Bulstrode Peachey Knight.         

  A vida conjugal de Frederico estava ótima. Em 1739, sua esposa deu a luz a Eduardo Augusto. Em 1740, nasceu Elizabeth. em 1744 surgiu Guilherme Henrique. Dois anos depois, em 1746, Henrique.    Em 1749 nasce Luísa. E em 1750 nasce o pequeno Frederico.
  Frederico era um pai atencioso e procurava cuidar dos filhos, a Grã-Bretanha inteira que quase o venerava via com bons olhos a descendencia do herdeiro, pois os últimos Stuarts tiveram enormes dificuldades na sucessão e também porque seus filhos nasceram no reino e todos falavam e eram educados em inglês, o príncipe George era o primeiro herdeiro presuntivo apos seu pai na linha de sucessão a nascer na Grã-Bretanha, rompendo assim com todas as rixas entre os Hanôver e a preferência pelo eleitorado. Mas o que mais impressionava a todos era o fatos de que nenhuma das proles sucumbiu a infância, o que não era normal naquela época.
  Logo apos o nascimento de Frederico, Augusta engravidou pela nona vez. A família havia sido expulsa da corte logo apos o nascimento de George e o rei George II se negava a pagar uma pensão para a família, o que Frederico dizia ter pleno direito por ser o futuro rei, graças a isso a maior parte do dinheiro foi usada para a Kew House e para as despesas da família. A Grã-Bretanha, Irlanda e Hanôver mal podiam esperar para que ele fosse rei, e ele também, não aguentava mais o pai tentando deserda-lo e estava pronto para ser rei a muito tempo, tinha quase 45 anos e nenhuma coroa lhe decorava a cabeça, queria ser monarca e transformar Augusta em sua rainha consorte, George no príncipe de Gales e duque de Rothesay e Augusta Charlotte na princesa real, seus outros filhos seriam príncipes britânicos legítimos da dinastia.
  Nesse momento ocorre uma reviravolta em sua vida. Uma bola em um jogo de cricket acertou sua cabeça e causou-lhe uma hemorragia terrível que foi agravada por uma doença pulmonar. Frederico Luís de Hanôver morreu no dia 31 de março de 1751 com apenas 44 anos, deixando uma viúva de 32 anos gravida, 8 filhos já nascidos e a sua posição de herdeiro da coroa de dois reinos e um eleitorado. Três meses depois, Augusta daria a luz a Carolina Matilde, filha póstuma do falecido. O destino estava decidido, nunca mais seria rei, nem eleitor, nem príncipe de Gales, nem duque de Rothesay, seria mais um esquecido da historia, lembrado apenas por aqueles que procuram saber sobre as monarquias europeias, esses percebem sua importância e reconhecem que teve uma historia como a de qualquer outro e sofreu por isso.
A princesa viúva e seus filhos, no sentido horário temos: Eduardo, George, Augusta Charlotte, a princesa Augusta com a filha póstuma Carolina Matilde, Elizabeth, Luísa,(embaixo) Frederico, Guilherme e Henrique, no fundo tem uma pintura de Frederico. Provavelmente, o quadro foi feito pela própria Augusta. 



 CONTINUA NO EPILOGO...


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